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    14/10/2025kapital6 min

    Agonistas do peptídeo semelhante ao GLP-1 e saúde mental: o que pacientes e profissionais precisam saber em 2025

    Palavra-chave principal: agonistas do peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1
    Marcas citadas como exemplos: semaglutida (Ozempic®, Wegovy®, Rybelsus®), tirzepatida (Mounjaro®, Zepbound®), liraglutida (Victoza®, Saxenda®), exenatida (Byetta®, Bydureon®), lixisenatida (Lyxumia®/Adlyxin®).


    1) Por que falar de semaglutida (Ozempic®, Wegovy®, Rybelsus®) e saúde mental?

    Os agonistas do peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1 foram desenvolvidos para diabetes e obesidade, mas também atuam em áreas do cérebro ligadas a apetite, recompensa, humor e cognição. Na prática, parte dos pacientes relata sono melhor, menos fome emocional e mais energia — efeitos que podem influenciar o bem-estar psíquico. Importante: isso não transforma essas medicações em “remédios de humor”, e sim em ferramentas metabólicas com impacto indireto no cérebro. SpringerLink+1


    2) Humor, ansiedade e ideação suicida: o que a evidência mostra

    Ensaios clínicos randomizados com semaglutida (Ozempic®, Wegovy®, Rybelsus®) não demonstraram aumento de depressão ou de ideação suicida versus placebo. Em grandes análises do mundo real, o risco psiquiátrico permanece baixo e semelhante a outras terapias. Há estudos observacionais isolados sugerindo associação desfavorável — leitura cuidadosa é necessária, pois esses estudos não provam causa e efeito.
    Em resumo: para quem não tem transtorno mental ativo grave, a evidência atual é tranquilizadora. Em quem tem histórico psiquiátrico significativo, iniciamos e monitoramos de perto (como faríamos com qualquer medicação sistêmica relevante). JAMA Network+2European Medicines Agency (EMA)+2


    3) Álcool e comportamento aditivo

    Há um sinal promissor para transtorno por uso de álcool: estudos controlados com semaglutida sugerem redução de craving e de consumo. Isso ainda é fora da bula, mas abre caminho para novas estratégias combinadas com psicoterapia e manejo de recaídas. JAMA Network


    4) Dor de cabeça e enxaqueca

    Revisões recentes apontam que agonistas do peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1 (por exemplo, liraglutidaVictoza®/Saxenda® — e semaglutida — Ozempic®, Wegovy®, Rybelsus® podem reduzir dias de cefaleia em alguns pacientes, além de um sinal interessante em hipertensão intracraniana idiopática. O efeito parece decorrer em parte da perda de peso e em parte de mecanismos neuromodulatórios. É um campo em evolução, útil como adjuvante quando há comorbidades metabólicas. BioMed Central+1


    5) Cérebro e neurodegeneração

    Em Parkinson, os resultados são mistos: lixisenatida (Lyxumia®/Adlyxin®) apresentou benefício na progressão motora em estudo de doze meses, enquanto exenatida (Byetta®/Bydureon®) não reproduziu ganho em fase avançada de pesquisa clínica. Para Alzheimer, a base mecanística é promissora, mas ainda faltam ensaios positivos consistentes. Ovid+2PubMed+2


    6) E a tirzepatida (Mounjaro®/Zepbound®)?

    A tirzepatida combina ação sobre peptídeo inibidor gástrico e sobre o peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1 e costuma proporcionar maior perda de peso — algo que, por si, melhora sono, dor, mobilidade e autoestima. Em neurociência, o racional é forte; nos desfechos psiquiátricos, os estudos dedicados ainda são escassos. Na clínica, o principal impacto percebido é metabólico, com reflexos indiretos sobre humor e funcionamento diário. PubMed


    7) O que isso significa na consulta médica (passo a passo):

    1. Linha de base: registrar humor e ansiedade com questionários padronizados, além de sono, compulsão alimentar e histórico de adições.

    2. Escolha do fármaco: semaglutida (Ozempic®/Wegovy®/Rybelsus®) ou tirzepatida (Mounjaro®/Zepbound®) conforme indicação, disponibilidade e perfil clínico.

    3. Acompanhamento de quatro a oito semanas: peso, efeitos adversos gastrointestinais, adesão, humor, ansiedade, impulsos aditivos e qualidade do sono.

    4. Integração com estilo de vida e psicoterapia: quanto melhor o plano alimentar, o treino e a estrutura de apoio, melhores os desfechos.

    5. Cautela especial: transtornos do humor ativos, transtornos alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de personalidade borderline, transtorno do espectro autista, ideação suicida recente e comorbidades clínicas relevantes pedem monitorização estreita e plano de segurança.


    8) Perguntas frequentes

    • Essas medicações melhoram depressão? Indiretamente, sim — via sono, dor, peso e inflamação —, mas não são antidepressivos. JAMA Network

    • Aumentam ansiedade ou risco de suicídio? A melhor evidência não mostra aumento do risco com semaglutida; mesmo assim, monitoramos. U.S. Food and Drug Administration+1

    • Ajudam com álcool? Há estudos iniciais positivos em craving e consumo; uso ainda fora da bula. JAMA Network

    • Qual é “a melhor”: semaglutida ou tirzepatida? Depende do caso, objetivos (perda de peso versus controle glicêmico), tolerabilidade, custo e acesso. PubMed


    9) Conclusão

    Os agonistas do peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1 ampliam o diálogo entre metabolismo e cérebro. Para muitos pacientes, o impacto metabólico positivo (peso, glicemia, inflamação) melhora sono, disposição e relação com a comida — e isso reverbera na saúde mental. A mensagem prática é simples: indicação correta, expectativas realistas, acompanhamento próximo e integração com psicoterapia e estilo de vida.

    Observação: nomes comerciais citados como exemplos. Indicações, doses e disponibilidade variam por país e por bula. Este conteúdo é informativo e não substitui avaliação médica individualizada.


    Referências

    1. Wadden TA, Tronieri JS, et al. Psychiatric Safety of Semaglutide for Weight Management in People Without Known Major Psychopathology: Post Hoc Analysis of STEP 1, 2, 3 and 5. JAMA Internal Medicine. 2024. JAMA Network

    2. U.S. Food and Drug Administration. Update on FDA’s ongoing evaluation of reports of suicidal thoughts or actions in patients taking GLP-1 receptor agonists. 11 jan 2024. U.S. Food and Drug Administration

    3. Hendershot CS, Bremmer MP, Paladino MB, et al. Once-Weekly Semaglutide in Adults With Alcohol Use Disorder: A Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry. 2025. JAMA Network

    4. Ognard J, Alipour Khabir S, Ghozy S, et al. Use of glucagon-like peptide-1 receptor agonists in idiopathic intracranial hypertension: a systematic review. The Journal of Headache and Pain. 2025. BioMed Central

    5. Mitchell JL, Lyons HS, Walker JK, et al. The effect of GLP-1RA exenatide on idiopathic intracranial hypertension: a randomized clinical trial. Brain. 2023. OUP Academic

    6. Meissner WG, Remy P, Giordana C, et al.; LIXIPARK Study Group. Trial of Lixisenatide in Early Parkinson’s Disease. New England Journal of Medicine. 2024. Ovid

    7. Vijiaratnam N, Girges C, Auld G, et al. Exenatide-PD3 (fase 3): resultados negativos. The Lancet. 2025. PubMed

    8. Jastreboff AM, Aronne LJ, Ahmad NN, et al.; SURMOUNT-1 Investigators. Tirzepatide Once Weekly for the Treatment of Obesity. New England Journal of Medicine. 2022. PubMed

    9. European Medicines Agency (PRAC). Meeting highlights 8–11 April 2024: no causal association between GLP-1 receptor agonists and suicidal/self-injury thoughts. European Medicines Agency (EMA)

    10. Medicines and Healthcare products Regulatory Agency (UK). Evidence does not support a link between GLP-1 receptor agonists and suicidal/self-injury thoughts and actions. 4 set 2024. GOV.UK

    11. West J, Li M, Wong S, et al. Are GLP-1 Receptor Agonists Central Nervous System Penetrant? A Narrative Review. Neurology and Therapy. 2025. SpringerLink

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