A classificação dos transtornos do sono-vigília do DSM-5 destina-se ao uso de clínicos de saúde mental e de clínicos gerais (médicos que cuidam de pacientes adultos, geriátricos e pediátricos). Os transtornos do sono-vigília abrangem 10 transtornos ou grupos de transtornos: transtorno de insônia, transtorno de hipersonolência, narcolepsia, transtornos do sono relacionados à respiração, transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano, transtornos de despertar do sono não REM (rapid eye movement – movimentos rápidos dos olhos), transtorno do pesadelo, transtorno comportamental do sono REM, síndrome das pernas inquietas e transtorno do sono induzido por substância/ medicamento. Geralmente, os indivíduos com esses tipos de transtorno apresentam-se com queixas de insatisfação envolvendo a qualidade, o tempo e a quantidade de sono. O sofrimento e o prejuízo resultantes durante o dia são características centrais compartilhadas por todos esses transtornos.

O objetivo da organização deste capítulo é facilitar o diagnóstico diferencial de queixas envolvendo o sono-vigília e esclarecer o momento mais adequado para encaminhar o paciente a um especialista a fim de que seja feita uma avaliação adicional e o planejamento do tratamento. A nosologia dos transtornos do sono do DSM-5 utiliza uma abordagem simples e bastante útil do ponto de vista clínico, ao mesmo tempo que reflete os avanços científicos em epidemiologia, genética, fisiopatologia, avaliação e pesquisas com intervenções que ocorreram a partir do DSM-IV. Em alguns casos (p. ex., transtorno de insônia), foi adotada uma abordagem de “agrupar”, enquanto em outros (p. ex., narcolepsia), foi adotada uma abordagem de “dividir”, refletindo a disponibilidade de validadores derivados de pesquisas epidemiológicas, neurobiológicas ou com intervenções.

Com frequência, os transtornos do sono são acompanhados de depressão, ansiedade e alterações cognitivas, que deverão ser incluídos no planejamento e no gerenciamento do tratamento. Além disso, os distúrbios persistentes do sono (tanto insônia como sonolência excessiva) são fatores de risco estabelecidos para o desenvolvimento subsequente de doenças mentais e de transtornos causados pelo uso de substâncias. Eles podem também representar uma expressão prodrômica de um episódio de doença mental, possibilitanto uma intervenção precoce para prevenir ou atenuar um episódio completo.

O diagnóstico diferencial de queixas relacionadas ao sono-vigília exige o uso de abordagens multidimensionais, levando-se em consideração a possível coexistência de condições médicas e neurológicas. A regra, e não a exceção, é a coexistência de condições clínicas. As perturbações do sono são indicadores clínicos úteis de condições médicas e neurológicas que, com frequência, coexistem com depressão e outros transtornos mentais comuns. Transtornos do sono relacionados à respiração, distúrbios cardíacos e pulmonares (p. ex., insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar obstrutiva crônica), distúrbios neurodegenerativos (p. ex., doença de Alzheimer) e distúrbios do sistema musculoesquelético (p. ex., osteoartrite) são as condições que mais se destacam entre essas comorbidades. Esses distúrbios não apenas perturbam o sono como também podem se agravar durante ele (p. ex., apneias prolongadas ou arritmias eletrocardiográficas durante o sono REM; despertares que causam confusão em pacientes portadores de doença que provoca insanidade mental; convulsões em pessoas que sofrem convulsões parciais complexas). Com frequência, o transtorno comportamental do sono REM é um indicador precoce de distúrbios neurodegenerativos (alfa-sinucleinopatias), como a doença de Parkinson. Por todas essas razões – relacionadas ao diagnóstico diferencial, à comorbidade clínica e à simplificação do planejamento do tratamento –, os transtornos do sono foram incluídos no DSM-5.

A abordagem utilizada na classificação dos transtornos do sono no DSM-5 deve ser analisada no contexto de visão “agrupando versus dividindo”, para facilitar a compreensão. O DSM-IV foi um grande esforço para simplificar a classificação dos transtornos do sono-vigília e, como tal, agregou diagnósticos com características menos diferenciadas e mais amplas. Já a segunda edição da Classificação internacional dos distúrbios do sono (CIDS-2) elaborou inúmeros subtipos diagnósticos. O DSM-IV foi preparado para ser utilizado por clínicos de saúde mental e por clínicos gerais, que não eram especialistas em medicina do sono. A CIDS-2 refletia a ciência e as opiniões da comunidade de especialistas do sono e foi preparada com foco nesse grupo de profissionais.

O peso das evidências disponíveis dá suporte às características de desempenho superior (confiabilidade entre avaliadores, bem como validade convergente, discriminante e aparente) de abordagens mais simples e menos diferenciadas ao diagnóstico de transtornos do sono. O texto que acompanha cada grupo de critérios diagnósticos estabelece vínculos ao transtorno correspondente na CIDS-2. A classificação de transtornos do sono do DSM-5 especifica também as listagens não psiquiátricas correspondentes (p. ex., códigos neurológicos) da Classificação internacional de doenças (CID).

O campo da medicina de transtornos do sono evoluiu nessa direção desde a publicação do DSM-IV. O uso de validadores biológicos foi incorporado na classificação de transtornos do sono do DSM-5, particularmente para transtornos de sonolência excessiva, como a narcolepsia; para transtornos do sono relacionados à respiração, para os quais são indicados estudos formais do sono (i.e., polissonografia); assim como para a síndrome das pernas inquietas, que, com frequência, pode coexistir com movimentos periódicos dos membros durante o sono, detectáveis pela polissonografia.

Fonte: DSM-V
O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.

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