Critérios Diagnósticos

  • Padrão persistente ou recorrente de interrupção do sono devido, principalmente, a alteração no sistema circadiano ou a desequilíbrio entre o ritmo circadiano endógeno e os horários de sono-vigília impostos pelos horários dos ambientes físico, social ou profissional do indivíduo.
  • A interrupção do sono leva a sonolência excessiva ou insônia, ou ambas.
  • A perturbação do sono causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional e em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

Determinar o subtipo:

Tipo fase do sono atrasada: Padrão de atraso nos horários de início do sono e de acordar, com incapacidade de conciliar o sono ou de acordar no horário mais cedo desejado ou convencionalmente aceitável.

Especificar se:

Familiar: Presença de história familiar de fase do sono atrasada.

Especificar se:

Sobrepondo-se com o tipo sono-vigília não de 24 horas: O tipo fase do sono atrasada pode se sobrepor a outro transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano, tipo sono-vigília não de 24 horas.

Tipo fase do sono avançada: Padrão de adiantamento nos horários de início do sono e de vigília, com incapacidade de permanecer acordado ou adormecido até os horários desejados ou convencionalmente aceitos para dormir ou acordar.

Especificar se:

  1. Familiar: Presença de história familiar de fase avançada do sono.
  2. Tipo sono-vigília irregular: Padrão de sono-vigília desorganizado temporariamente, de forma que o horário dos períodos de dormir e de acordar sejam variáveis ao longo de um período de 24 horas.
  3. Tipo sono-vigília não de 24 horas: Padrão de ciclos de sono-vigília que não são sincronizados ao ambiente de 24 horas, com um desvio consistente (em geral em horários cada vez mais tarde) nos horários de início do sono e de acordar.
  4. Tipo trabalho em turnos: Insônia durante o período principal de sono e/ou sonolência excessiva (incluindo sono inadvertido) durante o período principal de sono associada a um regime de trabalho em turnos (i.e., que exige horas de trabalho não convencionais).

Tipo não especificado

Especificar se:

Episódico: Os sintomas duram pelo menos um mês, porém menos de três meses.

  • Persistente: Os sintomas duram três meses ou mais.
    Recorrente: Dois ou mais episódios ocorrem no intervalo de um ano.

Tipo Fase do Sono Atrasada

Características Diagnósticas

O transtorno tipo fase do sono atrasada baseia-se principalmente em histórias de atraso no horário principal de sono (em geral mais de 2 horas) em relação aos horários desejados de dormir e acordar, resultando em sintomas de insônia e de sonolência excessiva. Quando autorizados a estabelecer seus próprios horários, indivíduos com fase do sono atrasada exibem qualidade e duração do sono normais para a idade. Sintomas de insônia no início do sono, dificuldade para acordar pela manhã e sonolência excessiva nas primeiras horas do dia são proeminentes.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

As características mais comuns associadas ao transtorno tipo fase do sono atrasada incluem história de transtornos mentais ou de algum transtorno mental concomitante. Dificuldade extrema e prolongada para acordar, com confusão pela manhã, também é comum. A insônia psicofisiológica pode se desenvolver como resultado de comportamentos inadequados que prejudicam o sono e aumentam o despertar em razão de tentativas repetidas para conciliar o sono em um horário mais cedo.

Prevalência

A prevalência do transtorno tipo fase do sono atrasada na população em geral é de 0,17%, embora, aparentemente, seja superior a 7% em adolescentes. Apesar de a prevalência familiar dessa condição não ter sido estabelecida, história familiar de fase do sono atrasada está presente em indivíduos com o transtorno.

Desenvolvimento e Curso

O curso é persistente, com duração superior a três meses e exacerbações intermitentes durante a fase adulta da vida. Embora ocorram variações na idade de início, os sintomas geralmente começam na adolescência e logo no início da vida adulta, persistindo por vários meses até alguns anos antes que seja feito o diagnóstico. A gravidade pode diminuir com a idade. A recorrência dos sintomas é comum.

A expressão clínica pode variar ao longo da vida dependendo das obrigações sociais, escolares e profissionais. Em geral, a exacerbação é desencadeada por alguma alteração nos horários escolares e de trabalho que implique acordar antes do horário habitual. Indivíduos que podem alterar os horários de trabalho para acomodar o ritmo de sono e vigília circadiano atrasado podem apresentar remissão dos sintomas.

O aumento na prevalência em adolescentes pode ser consequência de fatores fisiológicos e comportamentais. Alterações hormonais específicas podem estar envolvidas, levando-se em consideração que o transtorno tipo fase do sono atrasada está associado com o início da puberdade. Portanto, o transtorno tipo fase do sono atrasada em adolescentes deve ser diferenciado de atrasos comuns nos horários dos ritmos circadianos dessa faixa etária. Na forma familiar, o curso é persistente e pode não melhorar de forma significativa com a idade.

Fatores de Risco e Prognóstico

Genéticos e fisiológicos: Os fatores predisponentes incluem período circadiano mais longo do que a média, alterações na sensibilidade à luminosidade e prejuízo da homeostase da estimulação do sono. Possivelmente, alguns indivíduos com o transtorno tipo fase do sono atrasada sejam hipersensíveis à luz do entardecer, que pode servir como um sinal para atraso do relógio circadiano, ou hipossensíveis à luz da manhã, de forma que haja redução nos efeitos do adiantamento de fase. Fatores genéticos podem desempenhar um papel importante na patogênese das formas familiares e esporádicas do tipo fase do sono atrasada, incluindo mutações nos genes circadianos (p. ex., PER3, CKIe).

Marcadores Diagnósticos

A confirmação do diagnóstico inclui história completa e uso de um diário do sono ou actigrafia (i.e., um detector de movimento de pulso que monitora a atividade motora por períodos prolongados, que pode ser usado durante pelo menos sete dias como um representante dos padrões do sono-vigília). O período abrangido deve incluir fins de semana, quando os compromissos sociais e profissionais são menos rígidos, para assegurar que o indivíduo apresente um padrão consistente de sono-vigília atrasado. Biomarcadores como o início da melatonina salivar sob luz tênue devem ser obtidos somente nos casos em que o diagnóstico não for suficientemente claro.

Consequências Funcionais do Tipo Fase do Sono Atrasada

Sonolência excessiva logo nas primeiras horas do dia é proeminente. Dificuldade extrema e prolongada para acordar, com confusão pela manhã (i.e., inércia do sono), também é comum. A gravidade da insônia e dos sintomas de sonolência excessiva varia substancialmente entre os indivíduos e, em grande parte, depende das demandas profissionais e sociais de cada pessoa.

Diagnóstico Diferencial

Variações normais do sono: O transtorno tipo fase do sono atrasada deve ser diferenciado dos padrões de sono “normal” em que um indivíduo tem um horário e vai dormir fora do horário habitual e isso não chega a causar problemas pessoais, sociais ou profissionais (observados com frequência em adolescentes e em adultos jovens).

Outros transtornos do sono: O transtorno de insônia e outros transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano devem ser incluídos no diagnóstico diferencial. A sonolência excessiva pode também ser causada por outras perturbações do sono, tais como transtornos do sono relacionados à respiração, insônias, transtorno de movimentos relacionados ao sono e transtornos médicos, neurológicos e mentais. Durante a noite, a polissonografia poderá facilitar a avaliação de outros transtornos comórbidos do sono, como a apneia do sono. Entretanto, a natureza circadiana do transtorno tipo fase do sono atrasada deve ser diferenciada de outros transtornos com “queixas” semelhantes.

Comorbidade

O transtorno tipo fase do sono atrasada está fortemente associado a condições como depressão, transtorno da personalidade e transtorno de sintomas somáticos ou transtorno de ansiedade causado por enfermidades. Além disso, transtornos comórbidos do sono, como transtorno de insônia, síndrome das pernas inquietas e apneia do sono, assim como transtornos depressivo e bipolar e transtornos de ansiedade, podem exacerbar sintomas de insônia e de sonolência excessiva. O transtorno tipo fase do sono atrasada pode se sobrepor a algum outro transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano, tipo sono-vigília não de 24 horas. Indivíduos com o transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas que têm a visão preservada costumam ter também história de fase circadiana do sono atrasada.

Tipo Fase do Sono Avançada

Especificadores

O tipo fase do sono avançada pode ser documentado com o especificador “familiar”. Embora ainda não tenha sido calculada a prevalência do tipo fase do sono avançada familiar, é comum a presença de história familiar de antecipação de fase do sono em indivíduos com esse transtorno. Nesse tipo, mutações específicas demonstram um modo de herança autossômica dominante. Na forma familiar, o início dos sintomas poderá ocorrer mais cedo (durante a infância e na fase inicial da vida adulta); o curso é persistente, e a gravidade dos sintomas pode aumentar com a idade.

Características Diagnósticas

O tipo fase do sono avançada caracteriza-se por horários de sono-vigília que estão várias horas antes dos horários desejados ou convencionais. O diagnóstico baseia-se principalmente em história de antecipação no tempo do período de sono maior (em geral mais de 2 horas) em relação ao horário desejado de dormir e de acordar, com sintomas de insônia de manhã cedo e sonolência excessiva durante o dia. Nas situações em que for possível ajustar os próprios horários, os indivíduos com o tipo fase do sono avançada apresentam qualidade e duração normal do sono de acordo com a idade.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

Indivíduos com o tipo fase do sono avançada são “tipos matutinos”, com horários mais cedo do sono-vigília, sendo que os horários dos biomarcadores circadianos, tais como ritmos de melatonina e temperatura interna do corpo, ocorrem entre 2 e 4 horas antes do horário normal. Sempre que for necessário manter os horários convencionais, que exijam permanecer um pouco mais na cama, esses indivíduos poderão continuar acordando antes do horário habitual, levando a uma privação consistente do sono e sonolência durante o dia. O uso de agentes hipnóticos ou de álcool para combater a insônia e a fim de manter o sono e de estimulantes para diminuir a sonolência diurna poderá levar ao abuso de substâncias nesses indivíduos.

Prevalência

A prevalência estimada do tipo fase do sono avançada é de cerca de 1% em adultos na meia-idade. Provavelmente, os horários do sono-vigília e a antecipação na fase circadiana em indivíduos mais velhos sejam responsáveis pelo aumento da prevalência nessa população.

Desenvolvimento e Curso

Em geral, o início ocorre no fim da fase adulta; na forma familiar, pode ocorrer mais cedo. O curso costuma ser persistente, com pelo menos três meses de duração, porém a gravidade poderá aumentar dependendo dos horários ocupacionais e sociais. A fase do sono avançada é mais comum em adultos mais velhos.

A expressão clínica pode variar ao longo da vida, dependendo das obrigações sociais, escolares e ocupacionais. Indivíduos que têm a oportunidade de alterar os horários de trabalho, para adequá-los aos horários de antecipação no ritmo circadiano do sono-vigília, poderão experimentar remissão dos sintomas. O avançar da idade tende a avançar a fase do sono, entretanto, não está claro se o tipo fase do sono avançada associado à idade é causado somente por alterações nos horários circadianos (como se observa na forma familiar) ou também por alterações relacionadas à idade na regulação homeostática do sono, resultando em despertares antes da hora habitual. A gravidade, a remissão e a recorrência dos sintomas sugerem falta de adesão aos tratamentos comportamentais e ambientais para controlar a estrutura do sono e vigília e a exposição à luz.

Fatores de Risco e Prognóstico

  • Ambientais: A diminuição à exposição à luz no fim da tarde/início da noite e/ou exposição à luz pela manhã devido ao acordar cedo pode elevar o risco do tipo fase do sono avançada por antecipar os ritmos circadianos. Ao deitar-se mais cedo, esses indivíduos não são expostos à luz na região de atraso de fase da curva, resultando na perpetuação da fase avançada. Nos casos do tipo fase do sono avançada familiar, o encurtamento do período circadiano endógeno pode resultar na antecipação de fase do sono, embora, aparentemente, o período circadiano não diminua sistematicamente com a idade.
  • Genéticos e fisiológicos: O tipo fase do sono avançada demonstra presença de heranças autossômicas dominantes, incluindo uma mutação do gene PER2, causando hipofosforilação da proteína PER2, e uma mutação de sentido incorreto em CKI.

Questões Diagnósticas Relativas à Cultura

Indivíduos afro-americanos talvez tenham períodos circadianos mais curtos e antecipações de fase à luz de maior magnitude do que pessoas brancas, possivelmente aumentando o risco de desenvolvimento de transtornos do tipo fase do sono avançada nessa população.

Marcadores Diagnósticos

A manutenção de diários de sono e de actigrafia pode ser utilizada como marcador diagnóstico, conforme descrito anteriormente para os transtornos do tipo fase do sono atrasada.

Consequências Funcionais do Tipo Fase do Sono Avançada

Sonolência excessiva associada com a antecipação de fase do sono pode exercer efeito negativo sobre o desempenho cognitivo, a interação social e a segurança. O uso de agentes de manutenção do estado de vigília para combater a sonolência ou de sedativos para o despertar cedo pode aumentar o potencial para abuso de substâncias.

Diagnóstico Diferencial

Outros transtornos do sono: Fatores comportamentais como horários irregulares para dormir, despertar cedo voluntariamente e exposição à luz logo de manhã cedo devem ser considerados, principalmente em adultos mais velhos. Deve-se ter muita cautela para excluir outros transtornos do sono-vigília, como o transtorno de insônia, outros transtornos mentais e condições médicas que possam provocar o despertar antes do horário normal.

Transtornos depressivo e bipolar: Considerando que o despertar antes do horário habitual, a fadiga e a sonolência são características proeminentes de um transtorno depressivo maior, os transtornos depressivo e bipolar também devem ser considerados.

Comorbidade

Condições médicas e transtornos mentais com o sintoma de acordar cedo, como insônia, por exemplo, podem ocorrer concomitantemente com o transtorno do tipo fase do sono avançada.

Tipo Sono-Vigília Irregular

Características Diagnósticas

O diagnóstico de transtorno do tipo sono-vigília irregular baseia-se principalmente em histórias de sintomas de insônia à noite (durante o período habitual de sono) e de sonolência excessiva (cochilos) durante o dia. O transtorno do tipo sono-vigília irregular caracteriza-se pela falta de ritmo circadiano sono-vigília discernível. Não há um período de sono principal, e o sono é fragmentado em pelo menos três períodos durante as 24 horas do dia.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

Geralmente, dependendo da hora do dia, indivíduos com o transtorno do tipo sono-vigília irregular apresentam-se com insônia ou com sonolência excessiva. Os períodos de sono e de vigília ao longo de 24 horas são fragmentados, embora a tendência seja a de que o período mais longo de sono ocorra entre 2 e 6 horas e dure, em geral, menos de 4 horas. Possivelmente ocorram histórias de isolamento ou de reclusão em associação com o transtorno que contribuem para os sintomas pela ausência de estímulos externos para ajudar a produzir um padrão normal. Com frequência, os indivíduos e os respectivos cuidadores relatam a ocorrência de cochilos ao longo do dia. Em geral, o tipo sono-vigília irregular está associado a distúrbios neurodegenerativos, como o transtorno neurocognitivo maior, e a muitos transtornos do neurodesenvolvimento em crianças.

Prevalência

A prevalência do tipo sono-vigília irregular na população em geral é desconhecida.

Desenvolvimento e Curso

O curso do transtorno do tipo sono-vigília irregular é persistente. Embora a idade de início seja variável, esse transtorno é mais comum em adultos mais velhos.

Fatores de Risco e Prognóstico

  • Temperamentais: Distúrbios neurodegenerativos, como doença de Alzheimer, doença de Parkinson e doença de Huntington, e distúrbios do neurodesenvolvimento em crianças aumentam o risco de incidência do transtorno do tipo sono-vigília irregular.
  • Ambientais: Exposição diminuída à luz ambiental e atividades diurnas estruturadas podem estar associadas a ritmos circadianos de baixa amplitude. Indivíduos hospitalizados são especialmente propensos a esses estímulos externos fracos, e, mesmo fora do ambiente hospitalar, indivíduos com algum transtorno neurocognitivo maior (i.e., demência) são expostos a uma luminosidade significativamente mais tênue.

Marcadores Diagnósticos

Histórias detalhadas do sono e diários do sono (elaborados por um cuidador) ou actigrafia facilitam a confirmação de padrões irregulares do sono-vigília.

Consequências Funcionais do Tipo Sono-Vigília Irregular

A falta de um período principal de sono e vigília claramente discernível no transtorno do tipo sono-vigília irregular resulta em insônia ou em sonolência excessiva, dependendo da hora do dia. Com frequência, a perturbação do sono de cuidadores também é uma ocorrência comum e extremamente relevante.

Diagnóstico Diferencial

Variações normais no sono: O transtorno do tipo sono-vigília irregular deve ser diferenciado de horários voluntários irregulares de sono-vigília e higiene inadequada do sono, que poderão resultar em insônia e sonolência excessiva.

Outras condições médicas e transtornos mentais: Outras causas de insônia e de sonolência durante o dia, incluindo condições médicas comórbidas e transtornos mentais ou medicamentos, devem ser consideradas.

Comorbidade

Com frequência, o transtorno do tipo sono-vigília irregular é comórbido com transtornos mentais neurodegenerativos e do neurodesenvolvimento, tais como transtorno neurocognitivo maior, incapacidade intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) e lesões cerebrais traumáticas. Esse tipo de transtorno pode também ser comórbido com outras condições médicas e com transtornos mentais em que haja isolamento social e/ou ausência de luminosidade e de atividades estruturadas.

Transtorno do Tipo Sono-Vigília Não de 24 Horas

Características Diagnósticas

O diagnóstico do transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas baseia-se principalmente na história de sintomas de insônia ou de sonolência excessiva relacionada à sincronização anormal entre o ciclo claro-escuro de 24 horas e o ritmo circadiano endógeno. Geralmente, os indivíduos se apresentam com períodos de insônia, de sonolência excessiva ou ambos, que se alternam com períodos assintomáticos curtos. Iniciando com o período assintomático, quando a fase do sono do indivíduo estiver alinhada com o ambiente externo, a latência do sono aumenta gradualmente, e o indivíduo poderá se queixar de insônia no início do sono. À medida que a fase do sono continua a se desviar do curso, de forma que o horário de dormir passa a ser diurno, o indivíduo terá problemas para permanecer acordado durante o dia e passará a se queixar de sonolência. Como o período circadiano não está alinhado com o ambiente externo de 24 horas, os sintomas dependem do momento em que o indivíduo tenta dormir em relação ao ritmo circadiano de propensão para dormir.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

O transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas é mais comum entre indivíduos cegos ou com comprometimento visual que sofreram redução na percepção da luz. Com frequência, os indivíduos apresentam história de fase do sono atrasada e exposição diminuída à luz e redução nas atividades sociais e físicas estruturadas. Pessoas com capacidade de visão com o transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas também apresentam aumento no tempo de duração do sono.

Prevalência

A prevalência do transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas na população em geral não é clara, embora, aparentemente, o transtorno seja muito raro em indivíduos com capacidade de visão. Estima-se que a prevalência em pessoas cegas seja de 50%.

Desenvolvimento e Curso

O curso do transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas é persistente, com remissões intermitentes e exacerbações causadas por mudanças nos horários sociais e ocupacionais ao longo da vida. A idade de início é variável e depende do começo do comprometimento visual. Em indivíduos que enxergam, por causa da sobreposição com fase do sono atrasada, o transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas poderá se desenvolver na adolescência ou no início da vida adulta. A remissão e a recidiva dos sintomas em indivíduos cegos e nos que enxergam dependem, em grande parte, da adesão aos tratamentos para controle da estrutura do sono e vigília e da exposição à luz.

A expressão clínica poderá variar ao longo da vida de acordo com as obrigações sociais, escolares e ocupacionais. Em adolescentes e adultos, horários irregulares de sono-vigília e exposição à luz ou falta de luminosidade em horas importantes do dia podem exacerbar os efeitos da perda de sono e causar perturbações no ritmo circadiano. Portanto, possivelmente ocorra piora nos sintomas de insônia, de sonolência diurna e nas funções escolares, ocupacionais e interpessoais.

Fatores de Risco e Prognóstico

  1. Ambientais: Em indivíduos com capacidade de visão, a exposição diminuída ou a sensibilidade à luz e os estímulos às atividades sociais e físicas poderão contribuir para um ritmo circadiano de curso livre. Com a alta frequência de transtornos mentais envolvendo isolamento social e casos de transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas que se desenvolvem depois de alguma mudança nos hábitos do sono (p. ex., trabalho em turnos noturnos, perda de emprego), fatores comportamentais em combinação com tendências fisiológicas podem precipitar e perpetuar esse transtorno em pessoas com capacidade de visão. Indivíduos hospitalizados com transtornos neurológicos e psiquiátricos podem se tornar insensíveis aos estímulos sociais, o que pode predispor ao desenvolvimento do transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas.
  2. Genéticos e fisiológicos: A cegueira é um fator de risco para o transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas. Esse transtorno foi associado a lesões cerebrais traumáticas.

Marcadores Diagnósticos

A confirmação do diagnóstico é feita pela história e pelo diário de sono ou acitigrafia por períodos prolongados. A medição sequencial dos marcadores de fase (p. ex., melatonina) pode auxiliar a determinação da fase circadiana em indivíduos cegos e naqueles com a visão preservada.

Consequências Funcionais do Tipo Sono-Vigília Não de 24 Horas

As queixas de insônia (início e manutenção do sono), sonolência excessiva ou ambas são proeminentes. A imprevisibilidade dos horários de dormir e de acordar (tipicamente um desvio nos atrasos diários) resulta na incapacidade de ir à escola ou de manter um emprego estável, podendo aumentar o potencial para isolamento social.

Diagnóstico Diferencial

Transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano: Em indivíduos que enxergam, o transtorno do tipo sono-vigília não de 24 horas deve ser diferenciado do tipo fase do sono atrasada, uma vez que as pessoas com esse tipo de transtorno podem apresentar atraso progressivo semelhante no sono por um período de vários dias.

Transtornos depressivos: Sintomas depressivos e transtornos depressivos podem resultar em sintomas e perturbações circadianas semelhantes.

Comorbidade

Com frequência, a cegueira é comórbida com o tipo sono-vigília não de 24 horas, da mesma forma que os transtornos depressivo e bipolar com isolamento social.

Tipo Trabalho em Turnos

Características Diagnósticas

O diagnóstico baseia-se principalmente na história de indivíduos que trabalham fora da janela diurna normal das 8 às 18 horas (particularmente à noite) em horários regulares (i.e., sem horas extras). Os sintomas de sonolência excessiva no trabalho e de sono prejudicado em casa de forma persistente são proeminentes. Em geral, é necessária a presença de ambos os grupos de sintomas para o diagnóstico de transtorno do sono tipo trabalho em turnos. Em geral, os sintomas desaparecem quando o indivíduo volta a trabalhar de forma rotineira durante o dia. Embora a etiologia seja ligeiramente diferente, pessoas que viajam com muita frequência e passam por vários fusos horários poderão sentir efeitos semelhantes aos de pessoas com o transtorno do sono tipo trabalho em turnos que trabalham em turnos rotativos.

Prevalência

Embora a prevalência do transtorno do sono tipo trabalho em turnos não seja clara, estima-se que ele possa afetar de 5 a 10% da população de trabalhadores noturnos (16 a 20% da força de trabalho). A prevalência aumenta na meia-idade e em idades além dela (Drake et al., 2004).

Desenvolvimento e Curso

Embora o transtorno do sono tipo trabalho em turnos acometa indivíduos de qualquer idade, a prevalência é maior em pessoas com mais de 50 anos e, geralmente, agrava-se com o passar do tempo se persistirem as horas perturbadoras do sono. Embora adultos mais velhos possam demonstrar taxas de ajuste de fase circadiana para uma mudança na rotina semelhante ao que fazem adultos jovens, aqueles aparentam experimentar significativamente mais interrupções no sono como consequência da mudança na fase circadiana.

Fatores de Risco e Prognóstico

Temperamentais: Os fatores predisponentes incluem disposição pela manhã, necessidade de um período maior de duração do sono (i.e., mais de 8 horas) para sentir-se bem descansado e forte necessidade de competição social e doméstica (p. ex., pais de crianças jovens). Aparentemente, indivíduos que conseguem comprometer-se com um estilo de vida noturno, com poucas demandas competitivas durante o dia, têm risco menor de transtorno do sono tipo trabalho em turnos.

Genéticos e fisiológicos: Em virtude de os trabalhadores de turnos serem mais propensos que os trabalhadores de dia, a apneia do sono pode estar presente e exacerbar os sintomas.

Marcadores Diagnósticos

História, diário de sono ou actigrafia podem ser úteis na obtenção do diagnóstico, conforme já discutido anteriormente para o transtorno do tipo fase do sono atrasada.

Consequências Funcionais do Tipo Trabalho em Turnos

Indivíduos com o tipo trabalho em turnos não apenas apresentam baixo desempenho profissional, mas também, aparentemente, correm o risco de sofrer acidentes quando estiverem dirigindo de volta para casa. Além disso, essas pessoas correm também o risco de má saúde mental (p. ex., transtorno por uso de álcool, transtorno por uso de substâncias, depressão) e de saúde física precária (p. ex., distúrbios gastrintestinais, doença cardiovascular, diabetes, câncer). Pessoas com história de transtorno bipolar são particularmente vulneráveis a episódios de mania relacionados ao transtorno do tipo trabalho em turnos, resultantes de noites passadas em claro. Com frequência, o transtorno do tipo trabalho em turnos poderá criar problemas interpessoais.

Diagnóstico Diferencial

Variações normais no sono com trabalho em turnos: O diagnóstico de transtorno do tipo trabalho em turnos, em comparação com as dificuldades “normais” do trabalho em turnos, depende, até certo ponto, da gravidade dos sintomas e/ou do nível de desconforto experimentado pelo indivíduo. A presença de sintomas de transtorno do sono tipo trabalho em turnos, mesmo nas situações em que o indivíduo for capaz de viver uma rotina orientada para um regime normal de trabalho, durante várias semanas de cada vez, pode sugerir outros transtornos do sono, como apneia do sono, insônia e narcolepsia, que deverão ser excluídos.

Comorbidade

O transtorno tipo trabalho em turnos foi associado a aumento do transtorno por uso de álcool, de outros transtornos por uso de substâncias e depressão. Uma grande variedade de distúrbios da saúde física (p. ex., distúrbios gastrintestinais, doença cardiovascular, diabetes, câncer) foi associada à exposição prolongada a trabalhos em regime de turnos.

Relação com a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono

A segunda edição da Classificação internacional dos distúrbios do sono (CIDS-2) faz a distinção entre nove transtornos do ritmo circadiano do sono, incluindo o tipo jet lag.

Fonte: DSM-V
O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.

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