Critérios Diagnósticos

  • Queixas de insatisfação predominantes com a quantidade ou a qualidade do sono associadas a um (ou mais) dos seguintes sintomas:
    Dificuldade para iniciar o sono (em crianças, pode se manifestar como dificuldade para iniciar o sono sem intervenção de cuidadores).
    2. Dificuldade para manter o sono, que se caracteriza por despertares frequentes ou por problemas para retornar ao sono depois de cada despertar (em crianças, pode se manifestar como dificuldade para retornar ao sono sem intervenção de cuidadores).
    3. Despertar antes do horário habitual com incapacidade de retornar ao sono.
  • A perturbação do sono causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no funcionamento social, profissional, educacional, acadêmico, comportamental ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
  • As dificuldades relacionadas ao sono ocorrem pelo menos três noites por semana.
  • As dificuldades relacionadas ao sono permanecem durante pelo menos três meses.
  • As dificuldades relacionadas ao sono ocorrem a despeito de oportunidades adequadas para dormir.
  • A insônia não é mais bem explicada ou não ocorre exclusivamente durante o curso de outro transtorno do sono-vigília (p. ex., narcolepsia, transtorno do sono relacionado à respiração, transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano, parassonia).
  • A insônia não é atribuída aos efeitos fisiológicos de alguma substância (p. ex., abuso de drogas ilícitas, medicamentos).
  • A coexistência de transtornos mentais e de condições médicas não explica adequadamente a queixa predominante de insônia.

Especificar se:

Com comorbidade mental causada por transtorno não relacionado ao sono, incluindo transtornos por uso de substâncias.

  1. Com outra comorbidade médica
  2. Com outro transtorno do sono

Especificar se:

  • Episódico: Os sintomas duram pelo menos um mês, porém menos que três meses.
  • Persistente: Os sintomas duram três meses ou mais.
  • Recorrente: Dois (ou mais) episódios dentro do espaço de um ano.

Nota: O diagnóstico do transtorno de insônia poderá ser obtido se ocorrer como condição independente ou se for comórbido com outro transtorno mental (p. ex., transtorno depressivo maior), condição médica (p. ex., dor) ou qualquer outro transtorno do sono (p. ex., transtorno do sono relacionado à respiração). Por exemplo, a insônia poderá desenvolver seu próprio curso com algumas características de ansiedade e depressão, porém sem atender aos critérios de nenhum transtorno mental. A insônia pode manifestar-se também como a característica clínica de qualquer transtorno mental predominante. A insônia persistente poderá até ser um fator de risco para depressão e ser um sintoma residual comum depois do tratamento dessa condição. No caso de insônia comórbida com um transtorno mental, o tratamento também pode focar nas duas condições. Com frequência, levando-se em consideração esses cursos distintos, é impossível estabelecer a natureza precisa da relação entre essas entidades clínicas, e, além disso, essa relação poderá se alterar ao longo do tempo. Portanto, na presença de insônia e de um transtorno comórbido, não é necessário estabelecer uma relação causal entre as duas condições. Ao contrário, o diagnóstico do transtorno de insônia é feito com especificação simultânea das condições clínicas comórbidas. Um diagnóstico concomitante de insônia deve ser somente considerado quando a insônia for suficientemente grave para justificar atenção clínica independente; caso contrário, não é necessário fazer diagnósticos separados.

Características Diagnósticas

A característica essencial do transtorno de insônia é a insatisfação com a quantidade ou a qualidade do sono e queixas de dificuldade para iniciar ou manter o sono. As queixas de sono são acompanhadas de sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. A perturbação do sono pode ocorrer durante o curso de outro transtorno mental ou condição médica ou de forma independente.

Diferentes manifestações de insônia podem ocorrer em horários distintos do período de sono. Insônia na fase inicial do sono (ou insônia inicial) envolve a dificuldade em conciliar o sono na hora de dormir. Insônia de manutenção do sono (ou insônia intermediária) caracteriza-se por despertares frequentes ou prolongados durante a noite. Insônia terminal envolve o despertar antes do horário habitual e a incapacidade para retornar ao sono. A dificuldade em manter o sono é o sintoma mais comum de insônia, seguida pela dificuldade em conciliar o sono, enquanto a combinação desses dois sintomas é a apresentação geral mais comum. Com frequência, o tipo específico de queixa de sono varia ao longo do tempo. Indivíduos que se queixam de dificuldade em conciliar o sono em um determinado momento poderão, mais tarde, queixar-se da dificuldade em manter o sono, e vice-versa. Os sintomas das dificuldades em conciliar o sono e em mantê-lo poderão ser quantificados pelos relatos retrospectivos de cada indivíduo, por diários de sono ou por quaisquer outros métodos, tais como actigrafia ou polissonografia, embora o diagnóstico de transtorno de insônia se baseie na percepção individual subjetiva ou em relatos de cuidadores.

Sono não reparador. Queixa de má qualidade do sono pela qual o indivíduo se sente cansado ao levantar-se a despeito do tempo adequado de duração do sono; geralmente é uma queixa comum relacionada ao sono que ocorre em associação com a dificuldade em conciliar ou em manter o sono; com menos frequência, pode ser isolada. Existem também relatos dessa queixa em associação com outros transtornos do sono (p. ex., transtorno do sono relacionado à respiração). Nas situações em que o sono não reparador ocorrer isoladamente (i.e., ausência de dificuldades em conciliar e/ou em manter o sono), embora, mesmo assim, sejam atendidos todos os critérios diagnósticos no que diz respeito a frequência, duração, sofrimento e prejuízos durante o dia, o diagnóstico será de outro transtorno de insônia especificado ou transtorno de insônia não especificado.

Além dos critérios de frequência e duração necessários para fazer o diagnóstico, critérios adicionais são úteis para quantificar a gravidade da insônia. Esses critérios quantitativos, embora arbitrários, servem apenas para fins ilustrativos. Por exemplo, a dificuldade em conciliar o sono é definida por um período de latência subjetivo superior a 20 a 30 minutos, e a dificuldade em manter o sono é definida por um período subjetivo maior que 20 a 30 minutos em que o indivíduo permanece desperto após iniciar o sono. Embora não exista nenhuma definição-padrão para despertar antes do horário habitual, esse sintoma envolve o despertar pelo menos 30 minutos antes do horário programado e antes de o tempo total de sono atingir 6 horas e meia. É essencial levar em consideração não apenas o tempo final para despertar como também o horário de dormir na noite anterior. Despertar às 4 horas não tem o mesmo significado clínico para as pessoas que vão deitar às 21 horas em comparação com aquelas que se recolhem ao leito às 23 horas. Esse sintoma pode refletir também uma redução na capacidade de manter o sono relacionada à idade ou uma mudança associada à idade em relação ao tempo de duração do período principal de sono.

O transtorno de insônia envolve prejuízos estruturais ou funcionais durante o dia, assim como dificuldades para conciliar o sono durante a noite. Isso inclui fadiga ou, com menos frequência, sonolência durante o dia, que é mais comum entre indivíduos mais velhos e nos casos em que a insônia é comórbida com outra condição médica (p. ex., dor crônica) ou com algum transtorno do sono (p. ex., apneia do sono). Os prejuízos no desempenho cognitivo podem incluir dificuldades com atenção, concentração e memória e mesmo na execução das habilidades manuais mais simples. Geralmente, as perturbações associadas ao humor são descritas como irritabilidade ou labilidade do humor e, com menor frequência, como sintomas de depressão ou de ansiedade. Nem todos os indivíduos com perturbações noturnas no sono apresentam algum desconforto ou prejuízos funcionais. Por exemplo, com frequência, a continuidade do sono é interrompida em adultos mais velhos saudáveis que, mesmo assim, identificam a si próprios como pessoas que dormem bem. O diagnóstico de transtorno de insônia deve ser reservado para pessoas com sofrimento ou com prejuízos estruturais/funcionais significativos durante o dia relacionados à dificuldade de conciliar o sono durante a noite.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

Com frequência, a insônia está associada a um estado de alerta fisiológico e cognitivo e a fatores condicionantes que interferem no sono. A preocupação com o sono e com o desconforto causado pela incapacidade de dormir pode levar a um círculo vicioso: o esforço que um indivíduo faz para dormir aumenta a frustração, além de prejudicar o sono. Consequentemente, atenção e esforços excessivos para dormir, que acabam predominando sobre os mecanismos normais da fase inicial do sono, podem contribuir para o desenvolvimento de insônia. Indivíduos com insônia persistente podem também adquirir hábitos inadequados em relação ao sono (p. ex., permanecer tempo excessivo na cama; seguir um horário irregular de sono; cochilar) e cognições (p. ex., medo de insônia; apreensão decorrente de problemas enfrentados durante o dia; monitoramento do relógio) ao longo do curso do transtorno. Envolver-se em tais atividades em um ambiente no qual se tenha frequentemente passado noites insones poderá complicar ainda mais as vigílias condicionadas e perpetuar as dificuldades em conciliar o sono. Entretanto, o indivíduo poderá dormir com mais facilidade se não insistir nas tentativas de conciliar o sono. Algumas pessoas percebem melhoras na qualidade do sono quando estão distantes do quarto de dormir e das rotinas habituais.

A insônia pode ser acompanhada de uma grande variedade de queixas e de sintomas diurnos, incluindo fadiga, energia diminuída e perturbações do humor. Sintomas de ansiedade ou de depressão que não atendem aos critérios para um transtorno mental específico são comuns, assim como um foco excessivo nos efeitos percebidos da perda de sono no funcionamento durante o dia.

Indivíduos com insônia podem apresentar pontuações elevadas nos inventários psicológicos ou de personalidade autoaplicáveis, com perfis indicando níveis leves de depressão e de ansiedade; estilo cognitivo preocupado; estilo de solução de conflitos focado nas emoções e com base na internalização; e foco somático. Os padrões de prejuízos neurocognitivos entre indivíduos com transtorno de insônia são inconsistentes, embora possa ocorrer comprometimento na execução de tarefas de alta complexidade e de tarefas que exijam alterações frequentes nas estratégias de execução. Com frequência, indivíduos com insônia necessitam de mais esforço para manter o desempenho cognitivo.

Prevalência

As estimativas com base na população indicam que cerca de um terço dos adultos relata sintomas de insônia, 10 a 15% experimentam prejuízos diurnos associados, e 6 a 10% apresentam sintomas que atendem aos critérios do transtorno de insônia. O transtorno de insônia é o mais prevalente entre todos os transtornos do sono. Nos ambientes de tratamento primário, aproximadamente 10 a 20% dos indivíduos se queixam de sintomas significativos de insônia. Queixa de insônia é mais prevalente em indivíduos do sexo feminino do que nos do masculino, com uma razão entre gêneros em torno de 1,44:1. Embora, possivelmente, seja um sintoma ou um transtorno independente, a insônia é observada com maior frequência como uma condição comórbida com outra condição médica ou com algum transtorno mental. Por exemplo, 40 a 50% dos indivíduos com insônia apresentam também transtorno mental comórbido.

Desenvolvimento e Curso

Embora o início dos sintomas de insônia possa ocorrer em qualquer momento ao longo da vida, o primeiro episódio é mais comum em adultos jovens. Com menos frequência, a insônia inicia na infância ou na adolescência. Nas mulheres, o início da insônia pode ocorrer durante a menopausa e persistir mesmo depois da resolução de outros sintomas (p. ex., fogachos). A insônia pode iniciar em um período mais tardio da vida, o que está frequentemente associado ao início de outras condições relacionadas à saúde.

A insônia pode ser ocasional, persistente ou recorrente. Geralmente, a insônia ocasional, ou aguda, dura alguns dias ou algumas semanas e costuma estar associada a eventos que ocorrem na vida ou a alterações rápidas nos horários ou no ambiente de sono. De maneira geral, esse tipo de insônia desaparece logo após a regressão do evento precipitante inicial. No caso de alguns indivíduos, talvez aqueles mais vulneráveis às perturbações do sono, a insônia poderá persistir por muito tempo após o evento desencadeador inicial, possivelmente por causa de fatores condicionantes e da intensificação do estado de vigília. Os fatores que precipitam a insônia são distintos daqueles que a perpetuam. Por exemplo, um indivíduo acamado em virtude de alguma lesão dolorosa e que tenha dificuldade para dormir poderá desenvolver posteriormente associações negativas em relação ao sono. A vigília condicionada poderá persistir depois e levar à insônia persistente. Um curso semelhante pode desenvolver-se no contexto de estresse psicológico agudo ou de algum transtorno mental. Por exemplo, a insônia que ocorre durante o episódio de um transtorno depressivo grave pode se tornar um foco de atenção, com condicionamento negativo consequente, e persistir mesmo depois da resolução do episódio depressivo. Em alguns casos, o início da insônia pode ser insidioso, sem nenhum fator precipitante identificável.

O curso da insônia pode também ser episódico, com episódios recorrentes de dificuldades para dormir associados à ocorrência de eventos estressantes. As taxas de cronicidade variam de 45 a 75% nos acompanhamentos por períodos de 1 a 7 anos. Mesmo nas situações em que a insônia se tornar crônica, ocorrem variações noturnas nos padrões de sono, com intercalação de um sono reparador ocasional com várias noites de sono de má qualidade. As características da insônia também podem se alterar ao longo do tempo. Muitos indivíduos apresentam história de sono “leve” ou facilmente perturbado antes do desenvolvimento de problemas mais persistentes.

As queixas de insônia prevalecem mais entre adultos de meia-idade e adultos mais velhos. Os tipos de sintomas de insônia variam em função da idade, sendo que as dificuldades para conciliar o sono são mais comuns entre adultos jovens, e os problemas de manutenção do sono ocorrem com mais frequência entre indivíduos na meia-idade e idosos.

Embora as dificuldades para conciliar e manter o sono também ocorram em crianças e adolescentes, os dados sobre prevalência, fatores de risco e comorbidade durante essas fases do desenvolvimento são mais limitados. As dificuldades relacionadas ao sono na infância resultam de fatores condicionantes (p. ex., crianças que não aprendem a pegar no sono ou a retornar ao sono sem a presença de um dos pais) ou da ausência de horários consistentes para dormir e de rotinas na hora de deitar. Com frequência, a insônia na adolescência é desencadeada ou exacerbada por horários irregulares para dormir (p. ex., atraso de fase). Tanto em crianças como em adolescentes fatores psicológicos e médicos podem contribuir para a insônia.

O aumento na prevalência de insônia em adultos mais velhos explica-se parcialmente pela maior incidência de problemas físicos de saúde com o envelhecimento. As alterações nos padrões de sono associadas ao processo normal de desenvolvimento devem ser diferenciadas daquelas que excedem as alterações relacionadas à idade. Embora seu valor seja limitado nas avaliações rotineiras, a polissonografia pode ser mais útil no diagnóstico diferencial entre adultos mais velhos, pois as etiologias da insônia (p. ex., apneia do sono) são mais frequentemente identificáveis em indivíduos mais velhos.

Fatores de Risco e Prognóstico

Embora os fatores de risco e prognóstico discutidos nesta seção aumentem a vulnerabilidade para insônia, as perturbações do sono são mais prováveis quando indivíduos predispostos são expostos a eventos precipitantes, tais como eventos marcantes na vida (p. ex., doença, separação) ou estresses diários menos graves, porém mais crônicos. A maior parte das pessoas retoma os padrões normais de sono depois de o evento desencadeador inicial ter desaparecido, embora outras – talvez aquelas mais vulneráveis à insônia – continuem vivenciando dificuldades persistentes do sono. Fatores perpetuadores, tais como maus hábitos ao dormir, horário irregular do sono e medo de não conciliar o sono, agravam o problema de insônia e podem contribuir com o círculo vicioso, que poderá induzir insônia permanente.

  • Temperamentais: Ansiedade, estilos cognitivos ou personalidade propensa a preocupações, maior predisposição para despertar e tendência para reprimir emoções podem aumentar a vulnerabilidade à insônia.
  • Ambientais: Ruído, iluminação, temperaturas desconfortavelmente elevadas ou baixas e altitudes elevadas também podem aumentar a vulnerabilidade à insônia.
  • Genéticos e fisiológicos: Sexo feminino e idade avançada estão associados a aumento na vulnerabilidade à insônia. Sono interrompido e insônia podem revelar disposição familiar. A prevalência de insônia é mais elevada entre gêmeos monozigóticos em comparação com gêmeos dizigóticos; é mais elevada também em membros da família com parentesco de primeiro grau em comparação com a população em geral. Ainda permanece indeterminada a extensão na qual essa ligação é herdada por predisposição genética, aprendida por observações de modelos parentais ou estabelecida como um subproduto de outra psicopatologia.
  • Modificadores do curso: Os modificadores do curso que causam prejuízos incluem práticas inadequadas de higiene do sono (p. ex., uso excessivo de cafeína, horários irregulares para dormir).

Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero

A queixa de insônia é mais prevalente no sexo feminino do que no masculino, com início geralmente associado ao nascimento de um novo filho ou à menopausa. Apesar da prevalência mais elevada entre as mulheres mais velhas, estudos polissonográficos sugerem que há melhor preservação da continuidade do sono e sono de ondas lentas em mulheres mais velhas do que em homens mais velhos.

Marcadores Diagnósticos

Em geral, a polissonografia mostra a presença de prejuízos na continuidade do sono (p. ex., aumento na latência do sono e no tempo para despertar e redução na eficiência do sono [percentual de tempo adormecido na cama]) e pode revelar também aumento no estágio 1 e diminuição nos estágios 3 e 4 do sono. A gravidade desses prejuízos no sono nem sempre coincide com a apresentação clínica do indivíduo ou com queixas subjetivas de sono de má qualidade, tendo em vista que, com frequência, os indivíduos com insônia subestimam a duração do sono e superestimam a vigília em relação à polissonografia. Análises eletrencefalográficas quantitativas indicam que pessoas com insônia apresentam maior intensidade de sinais eletrencefalográficos de alta potência do que aquelas que dormem bem no período de início do sono e durante o sono com movimentos não rápidos dos olhos, uma característica que sugere aumento na excitação cortical. Indivíduos com transtorno de insônia podem ter menor propensão para conciliar o sono e, geralmente, não apresentam aumento na sonolência durante o dia em medições laboratoriais objetivas do sono em comparação com indivíduos sem transtornos do sono.

Outros tipos de medição laboratorial mostram evidências, embora não consistentes, de aumento na excitação e de uma ativação generalizada do eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal (p. ex., elevação nos níveis de cortisol, variabilidade na frequência cardíaca, reatividade ao estresse, taxa metabólica). De maneira geral, os achados são consistentes com a hipótese de que aumentos na excitação fisiológica e cognitiva desempenham papel relevante no transtorno de insônia.

Aparentemente, indivíduos com o transtorno de insônia parecem fatigados ou abatidos ou, ao contrário, superexcitados e “ligados”. No entanto, o exame físico não revela a presença de nenhuma anormalidade característica ou consistente. Possivelmente ocorra aumento na incidência de sintomas psicofisiológicos relacionados ao estresse (p. ex., cefaleia por tensão, tensão ou dor muscular, sintomas gastrintestinais).

Consequências Funcionais do Transtorno de Insônia

Problemas interpessoais, sociais e profissionais poderão ocorrer como resultado de insônia ou de preocupação excessiva com o sono, aumento na irritabilidade diurna e má concentração. Redução da atenção e da concentração é comum e pode estar relacionada a taxas mais elevadas de acidentes observadas em casos de insônia. A insônia persistente também está associada a consequências de longo prazo, incluindo aumento no risco de transtornos depressivos graves, hipertensão e infarto do miocárdio; absenteísmo elevado e produtividade reduzida no trabalho; qualidade de vida insatisfatória; e aumento nos problemas econômicos.

Diagnóstico Diferencial

Variações no sono normal: A duração do sono normal varia consideravelmente entre os indivíduos. Alguns que dormem pouco (“pessoas com sono curto”) preocupam-se com o tempo de duração do sono. Pessoas com sono curto são diferentes daquelas com transtorno de insônia pela ausência de dificuldade de conciliar o sono ou de permanecerem adormecidas e pela ausência de sintomas diurnos típicos (p. ex., fadiga, problemas de concentração, irritabilidade). Entretanto, algumas pessoas com sono curto que desejam ou tentam dormir por um período de tempo mais longo, prolongando o tempo de permanência na cama, podem criar um padrão de sono semelhante à insônia. A insônia clínica também deve ser distinguida de alterações normais no sono associadas à idade. Da mesma forma, é importante distinguir insônia de privação do sono causada por oportunidades ou circunstâncias inadequadas para dormir resultantes, por exemplo, de alguma emergência ou de compromissos profissionais ou familiares que forçam o indivíduo a permanecer acordado.

Insônia situacional/aguda: Insônia situacional/aguda é uma condição cuja duração varia de alguns dias a algumas semanas, em geral associada a eventos da vida ou a alterações nos horários do sono. Esses sintomas de insônia aguda ou de curto prazo podem produzir também desconforto significativo e interferir nas funções sociais, pessoais e profissionais. Nas situações em que esses sintomas forem suficientemente frequentes e atenderem a todos os outros critérios, excetuando-se a duração de três meses, o diagnóstico será de outro transtorno de insônia especificado ou de transtorno de insônia não especificado.

Transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano tipo fase do sono atrasada e tipo trabalho em turnos: Indivíduos com transtorno do sono-vigília do ritmo circadiano do tipo fase do sono atrasada relatam a presença de insônia na fase inicial do sono somente nas situações em que tentam dormir em horários socialmente normais, porém não fazem nenhuma referência a dificuldades em conciliar o sono ou em permanecer adormecidos quando os horários de dormir e acordar atrasam ou coincidem com o ritmo circadiano endógeno. O tipo trabalho em turnos difere do transtorno de insônia pela história de recente mudança no horário de trabalho.

Síndrome das pernas inquietas: Com frequência, a síndrome das pernas inquietas cria dificuldades para iniciar e manter o sono. No entanto, a necessidade de movimentar as pernas, acompanhada de quaisquer sensações desconfortáveis, é uma característica que distingue esse transtorno do transtorno de insônia.

Transtornos do sono relacionados à respiração: A maioria dos indivíduos com transtorno do sono relacionado à respiração apresenta história de roncos altos, pausas respiratórias durante o sono e sonolência excessiva durante o dia. Não obstante, pelo menos 50% das pessoas com apneia do sono podem apresentar também sintomas de insônia, que é uma característica mais comum entre mulheres e adultos mais velhos.

Narcolepsia: Embora possa provocar queixas de insônia, a narcolepsia distingue-se do transtorno de insônia pela predominância de sintomas de sonolência diurna excessiva, cataplexia, paralisia do sono e alucinações relacionadas ao sono.

Parassonias: As parassonias se caracterizam por queixas de comportamentos ou de eventos incomuns durante o sono que podem resultar em despertares intermitentes e na dificuldade de retomar o sono. Entretanto, são esses eventos comportamentais, e não a insônia, que dominam o quadro clínico.

Transtorno do sono tipo insônia induzido por substância/medicamento: O transtorno do sono tipo insônia induzido por substância/medicamento distingue-se do transtorno de insônia porque se presume que qualquer substância (i.e., drogas ilícitas, medicamentos ou exposição a toxinas) esteja etiologicamente relacionada à insônia (ver “Transtorno do Sono Induzido por Substância/Medicamento” mais adiante neste mesmo capítulo). Por exemplo, a insônia que ocorre apenas no contexto de um consumo pesado de café seria diagnosticada como transtorno do sono tipo insônia induzido por cafeína com início durante a intoxicação.

Comorbidade

Insônia é uma comorbidade comum de muitas condições médicas, incluindo diabetes, doença cardíaca coronariana, doença pulmonar obstrutiva crônica, artrite, fibromialgia e outras condições de dor crônica. Aparentemente, a relação de risco é bidirecional: a insônia aumenta o risco dessas condições médicas, e os problemas médicos aumentam o risco de insônia. Nem sempre a direção da relação é clara, podendo alterar-se ao longo do tempo; por essa razão, insônia comórbida é a terminologia preferida na presença de insônia coexistente com outra condição médica (ou transtorno mental).

Com frequência, indivíduos com transtorno de insônia têm algum transtorno mental comórbido, particularmente transtornos de ansiedade, bipolares e depressivos. Insônia persistente representa um fator de risco ou um sintoma precoce de subsequente transtornos de ansiedade, bipolar, depressivo e relacionados ao uso de substâncias. Indivíduos com insônia podem usar incorretamente medicamentos ou álcool para ajudar o sono noturno, ansiolíticos para combater a tensão ou a ansiedade, e cafeína ou outros estimulantes para combater fadiga excessiva. Em alguns casos, além de agravar a insônia, o uso desse tipo de substâncias poderá evoluir para um transtorno relacionado ao uso de substâncias.

Relação com a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono

Existem vários fenótipos distintos de insônia relacionados à fonte percebida de insônia reconhecida pela segunda edição da Classificação internacional dos distúrbios do sono (CIDS-2). Esses fenótipos incluem insônia psicofisiológica, insônia idiopática, percepção inadequada do estado de sono e higiene inadequada do sono. A despeito do apelo clínico e do valor heurístico, as evidências que dão suporte a esses fenótipos distintos são limitadas.

Fonte: DSM-V
O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.

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