Critérios Diagnósticos

Uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamento de submissão e apego que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:

  • Tem dificuldades em tomar decisões cotidianas sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento de outros.
  • Precisa que outros assumam responsabilidade pela maior parte das principais áreas de sua vida.
  • Tem dificuldades em manifestar desacordo com outros devido a medo de perder apoio ou aprovação. (Nota: Não incluir os medos reais de retaliação.)
  • Apresenta dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (devido mais a falta de autoconfiança em seu julgamento ou em suas capacidades do que a falta de motivação ou energia).
  • Vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis.
  • Sente-se desconfortável ou desamparado quando sozinho devido a temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si mesmo.
  • Busca com urgência outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após o término de um relacionamento íntimo.
  • Tem preocupações irreais com medos de ser abandonado à própria sorte.

Características Diagnósticas

A característica essencial do transtorno da personalidade dependente é uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamento de submissão e apego e a temores de separação. Esse padrão surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos. Os comportamentos de dependência e submissão formam-se com o intuito de conseguir cuidado e derivam de uma autopercepção de não ser capaz de funcionar adequadamente sem a ajuda de outros.

Indivíduos com o transtorno da personalidade dependente apresentam grande dificuldade em tomar decisões cotidianas (p. ex., a cor de camisa a vestir ou levar ou não o guarda-chuva) sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramentos oferecidos por outros (Critério 1). Esses indivíduos tendem a ser passivos e a permitir que outros (frequentemente apenas uma pessoa) tomem a iniciativa e assumam a responsabilidade pela maior parte das principais áreas de suas vidas (Critério 2). Adultos com o transtorno costumam depender de pai ou mãe ou cônjuge para decidir onde morar, o tipo de trabalho a realizar e os vizinhos com quem fazer amizade. Adolescentes com o transtorno podem permitir que seus pais decidam o que devem vestir, com quem fazer amizade, como usar o tempo livre e a escola ou universidade para onde ir. Essa necessidade de que outras pessoas assumam a responsabilidade vai além das solicitações de auxílio adequadas à idade ou à situação (p. ex., as necessidades específicas de crianças, idosos e pessoas deficientes). O transtorno da personalidade dependente pode ocorrer em um indivíduo que tenha uma condição ou incapacidade médica grave, mas nesses casos a dificuldade em assumir responsabilidade precisa ir além daquilo que estaria normalmente associado a essa condição ou incapacidade.

Como existe o receio de perder apoio ou aprovação, indivíduos com o transtorno da personalidade dependente frequentemente apresentam dificuldade em expressar discordância de outras pessoas, em especial daquelas de quem são dependentes (Critério 3). Eles se sentem tão incapazes de funcionar por conta própria que podem vir a concordar com coisas que consideram erradas apenas para não arriscar perder a ajuda daqueles que procuram para orientação. Não se enfurecem justificadamente com outros de cujo apoio e cuidados necessitam, por medo de se afastar deles. Se as preocupações do indivíduo relativas às consequências de expressar discordância forem realistas (p. ex., medos reais de punição de um cônjuge abusivo), o comportamento não deve ser considerado evidência de transtorno da personalidade dependente.

Indivíduos com esse transtorno apresentam dificuldades para iniciar projetos ou fazer coisas de forma independente (Critério 4). Carecem de autoconfiança e acham que precisam de ajuda para iniciar e finalizar tarefas. Podem vir a aguardar os outros para começar algo, pois pensam que, em regra, os outros podem fazer esse algo melhor. Esses indivíduos têm convicção de serem incapazes de funcionar independentemente e apresentam-se como incapazes e como se necessitassem de assistência constante. Entretanto, é provável que funcionem adequadamente caso tenham certeza de que outra pessoa estará supervisionando e aprovando seu trabalho. Pode haver receio de se tornar ou parecer mais competente, pois podem acreditar que isso levará ao abandono. Visto que contam com os outros para lidar com seus problemas, com frequência não aprendem as habilidades para uma vida independente, perpetuando, assim, a dependência.

Indivíduos com transtorno da personalidade dependente podem ir a extremos para conseguir cuidado e apoio de outros, a ponto até de voluntariar-se para tarefas desagradáveis caso esse comportamento possa proporcionar a atenção de que precisam (Critério 5). Estão dispostos a se submeter ao que os outros desejam, mesmo que as demandas não sejam razoáveis. Sua necessidade de manter um vínculo importante resultará frequentemente em relacionamentos desequilibrados ou distorcidos. Essas pessoas podem fazer sacrifícios extraordinários ou tolerar abuso verbal, físico ou sexual. (Deve-se observar que esse comportamento deve ser considerado evidência de transtorno da personalidade dependente apenas quando puder ser claramente estabelecido que existem outras opções para o indivíduo.) Pessoas com esse transtorno sentem-se desconfortáveis ou desamparadas quando sós devido aos temores exagerados de não serem capazes de cuidar de si mesmas (Critério 6). Vão se “grudar” a outros apenas para evitar a solidão, mesmo sem ter interesse ou envolvimento com o que está acontecendo.

Ao término de um relacionamento íntimo (p. ex., rompimento com companheiro afetivo, morte de cuidador), indivíduos com transtorno da personalidade dependente podem buscar urgentemente outro relacionamento para obter os cuidados e o apoio de que necessitam (Critério 7). Sua crença de que são incapazes de funcionar na ausência de um relacionamento íntimo motiva-os a tornarem-se rápida e indiscriminadamente apegados a outra pessoa. Com frequência preocupam- -se com medos de serem abandonados à própria sorte (Critério 8). Veem-se como tão completamente dependentes dos conselhos e da ajuda de uma outra pessoa significativa que se preocupam com a possibilidade de serem abandonados por essa pessoa mesmo quando não há justificativa para esses temores. Para que sejam considerados evidência desse critério, os medos devem ser excessivos e irreais. Por exemplo, um idoso com câncer que se muda para a casa do filho para ser cuidado está demonstrando comportamento dependente adequado, consideradas suas circunstâncias de vida.

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

Indivíduos com transtorno da personalidade dependente com frequência são caracterizados por pessimismo e autoquestionamentos, tendem a subestimar suas capacidades e seus aspectos positivos e podem constantemente referir a si mesmos como “estúpidos”. Encaram críticas e desaprovação como prova de sua desvalia e perdem a fé em si mesmos. Podem buscar superproteção e dominação por parte dos outros. O funcionamento profissional pode ser prejudicado diante da necessidade de iniciativas independentes. Podem evitar cargos de responsabilidade e ficar ansiosos diante de decisões. As relações sociais tendem a ser limitadas àquelas poucas pessoas de quem o indivíduo é dependente. Pode haver risco aumentado de transtornos depressivos, de ansiedade e de adaptação. O transtorno da personalidade dependente costuma ser concomitante com outros transtornos da personalidade, especialmente borderline, evitativa e histriônica. Doença física crônica ou transtorno de ansiedade de separação na infância ou adolescência podem predispor o indivíduo ao desenvolvimento desse transtorno.

Prevalência

Dados do National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions de 2001-2002 produziram uma estimativa da prevalência de transtorno da personalidade dependente de 0,49%. Com base em uma subamostra de probabilidades da Parte II do National Comorbidity Survey Replication, a prevalência da personalidade dependente foi estimada em 0,6%.

Desenvolvimento e Curso

Esse diagnóstico deve ser usado com muita cautela, ou até não ser usado, em crianças e adolescentes, para os quais um comportamento dependente pode ser apropriado do ponto de vista do desenvolvimento.

Questões Diagnósticas Relativas à Cultura

O grau até o qual comportamentos dependentes são considerados apropriados varia substancialmente entre diferentes faixas etárias e grupos socioculturais. Idade e fatores culturais devem ser considerados na avaliação do limiar diagnóstico de cada critério. O comportamento dependente deve ser considerado característico do transtorno somente quando for claramente excessivo em relação às normas da cultura do indivíduo ou refletir preocupações não realistas. Ênfase na passividade, na educação e na deferência é característica de algumas sociedades e pode ser mal interpretada como traço do transtorno da personalidade dependente. De forma semelhante, as sociedades podem, de maneiras diferenciadas, fomentar e desencorajar comportamento dependente em indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino.

Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero

Em contextos clínicos, o transtorno da personalidade dependente tem sido diagnosticado mais frequentemente no sexo feminino, embora alguns estudos relatem taxas similares de prevalência entre ambos os sexos.

Diagnóstico Diferencial

Outros transtornos mentais e condições médicas: O transtorno da personalidade dependente deve ser distinguido da dependência decorrente de outros transtornos mentais (p. ex., transtornos depressivos, transtorno de pânico, agorafobia) e de outras condições médicas.

Outros transtornos da personalidade e traços de personalidade: Outros transtornos da personalidade podem ser confundidos com o transtorno da personalidade dependente pelo fato de apresentarem alguns aspectos em comum. Assim, é importante distinguir entre esses transtornos com base nas diferenças em seus aspectos característicos. Entretanto, se um indivíduo apresenta características de personalidade que atendem a critérios para um ou mais de um transtorno da personalidade além do transtorno da personalidade dependente, todos podem ser diagnosticados. Embora muitos transtornos da personalidade sejam caracterizados por aspectos dependentes, o transtorno da personalidade dependente pode ser distinguido por seu comportamento predominantemente reativo, submisso e de apego. Tanto o transtorno da personalidade dependente quanto o da personalidade borderline caracterizam-se pelo medo do abandono; contudo, o indivíduo com transtorno da personalidade borderline reage ao abandono com sentimento de vazio emocional, fúria e exigências, ao passo que aquele com transtorno da personalidade dependente reage com calma e submissão crescentes e busca urgentemente um relacionamento substituto que dê atenção e apoio. O transtorno da personalidade borderline pode ser ainda diferenciado do transtorno da personalidade dependente por um padrão típico de relacionamentos instáveis e intensos. Indivíduos com transtorno da personalidade histriônica, assim como aqueles com transtorno da personalidade dependente, apresentam grande necessidade de reasseguramento e aprovação e podem parecer infantis e “grudentos”. Diferentemente do transtorno da personalidade dependente, no entanto, o qual se caracteriza pelo retraimento e pelo comportamento dócil, o transtorno da personalidade histriônica se caracteriza pelo exibicionismo sociável com exigências ativas de atenção. Tanto o transtorno da personalidade dependente quanto o da personalidade evitativa caracterizam-se por sentimentos de inadequação, hipersensibilidade à crítica e necessidade de reasseguramento; indivíduos com transtorno da personalidade evitativa, todavia, sentem tanto medo de humilhação e rejeição que se retraem até ter certeza da aceitação. Indivíduos com o transtorno da personalidade dependente, pelo contrário, apresentam um padrão de busca e manutenção dos laços com pessoas significativas, e não de evitação e de retirada dos relacionamentos.

Muitos indivíduos exibem traços da personalidade dependente. Esses traços somente constituem o transtorno da personalidade dependente quando são inflexíveis, mal-adaptativos e persistentes e causam prejuízo funcional ou sofrimento subjetivo significativos.

Mudança de personalidade devido a outra condição médica: O transtorno da personalidade dependente deve ser diferenciado da mudança de personalidade devido a outra condição médica, na qual os traços que emergem são atribuíveis aos efeitos de outra condição médica no sistema nervoso central.

Transtornos por uso de substância: O transtorno da personalidade dependente deve também ser distinguido de sintomas que podem se desenvolver em associação com o uso persistente de substância.

Fonte: DSM-V
O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.

Fale conosco!
Fale Conosco!
Escanear o código
Oi, tudo bem?? Posso ajudar com alguma duvida?