Critérios Diagnósticos

  • Um ou mais sintomas de função motora ou sensorial alterada.
  • Achados físicos evidenciam incompatibilidade entre o sintoma e as condições médicas ou neurológicas encontradas.
  • O sintoma ou déficit não é mais bem explicado por outro transtorno mental ou médico.
  • O sintoma ou déficit causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo ou requer avaliação médica.

Especificar o tipo de sintoma:

(F44.4) Com fraqueza ou paralisia

(F44.4) Com movimento anormal (p. ex., tremor, movimento distônico, mioclonia, distúrbio da marcha)

(F44.4) Com sintomas de deglutição

(F.44.4) Com sintoma de fala (p. ex., disfonia, fala arrastada)

(F.44.5) Com ataques ou convulsões

(F.44.6) Com anestesia ou perda sensorial

(F.44.6) Com sintoma sensorial especial (p. ex., perturbação visual, olfatória ou auditiva)

(F44.7) Com sintomas mistos

Especificar se:

Episódio agudo: Sintomas presentes há menos de seis meses.

Persistente: Sintomas ocorrendo há seis meses ou mais.

Especificar se:

  1. Com estressor psicológico (especificar estressor)
  2. Sem estressor psicológico
  3. Características Diagnósticas

Muitos clínicos usam termos alternativos como “funcional” (referindo-se ao funcionamento anormal do sistema nervoso central) ou “psicogênico” (referindo-se a uma etiologia presumida) para descrever os sintomas do transtorno conversivo (transtorno de sintomas neurológicos funcionais). Nele, pode haver um ou mais sintomas de diversos tipos. Sintomas motores incluem fraqueza ou paralisia; movimentos anormais, como tremor ou movimentos distônicos; anormalidades da marcha; e postura anormal de membro. Sintomas sensoriais incluem sensação cutânea, visão ou audição alteradas, reduzidas ou ausentes. Episódios de tremores generalizados de membros com aparente prejuízo ou perda de consciência podem assemelhar-se a convulsões epiléticas (também denominadas convulsões psicogênicas ou não epiléticas). Pode haver episódios de ausência de resposta semelhantes a síncope ou coma. Outros sintomas incluem volume da fala reduzido ou ausente (disfonia/afonia), articulação alterada (disartria), uma sensação de “bola” ou caroço na garganta (globus) e diplopia.

Embora o diagnóstico exija que o sintoma não seja explicado por doença neurológica, ele não deverá ser feito simplesmente porque os resultados das investigações foram normais ou porque o sintoma é “bizarro”. É preciso haver achados clínicos que demonstrem claramente incompatibilidade com doença neurológica. A inconsistência interna no exame é uma maneira de demonstrar incompatibilidade (i.e., demonstrando que os sinais físicos provocados por meio de um método de exame deixam de ser positivos quando testados de uma maneira diferente).

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

Uma série de aspectos associados pode respaldar o diagnóstico de transtorno conversivo. Pode haver história de múltiplos sintomas somáticos semelhantes. A manifestação inicial pode estar associada a estresse ou trauma, tanto de natureza psicológica como física. A relevância etiológica potencial desse estresse ou trauma pode ser sugerida por uma relação temporal próxima. Entretanto, ainda que a avaliação quanto à presença de estresse ou trauma seja importante, o diagnóstico poderá ser feito mesmo se nenhum destes for encontrado.

O transtorno conversivo está, muitas vezes, associado a sintomas dissociativos, tais como despersonalização, desrealização e amnésia dissociativa, particularmente no início do quadro sintomático ou durante os ataques.

O diagnóstico de transtorno conversivo não requer o julgamento de que os sintomas não sejam intencionalmente produzidos (i.e., não simulados), já que a ausência definitiva de simulação pode não ser discernível de forma confiável. O fenômeno la belle indifférence (i.e., ausência de preocupação acerca da natureza ou das implicações do sintoma) tem sido associado ao transtorno conversivo, porém não é específico dele nem deverá ser utilizado para fazer o diagnóstico. Da mesma maneira, o conceito de ganho secundário (i.e., quando os indivíduos obtêm benefícios externos como dinheiro ou isenção de responsabilidades) também não é específico do transtorno conversivo, e, particularmente na presença de evidência concreta de simulação, os diagnósticos que deverão ser considerados incluem transtorno factício ou simulação (ver a seção “Diagnóstico Diferencial” para esse transtorno).

Prevalência

Sintomas conversivos transitórios são comuns, mas a prevalência exata do transtorno é desconhecida. Isso ocorre em parte porque o diagnóstico geralmente requer avaliação em serviços de saúde de nível secundário, onde o transtorno é encontrado em cerca de 5% dos encaminhamentos a ambulatórios de neurologia. A incidência de sintomas conversivos persistentes individuais é estimada em 2 a 5/100.000 por ano.

Desenvolvimento e Curso

O transtorno pode se manifestar em qualquer momento da vida. O surgimento de ataques não epiléticos atinge seu pico na terceira década de vida, e sintomas motores têm seu pico de início na quarta década. Os sintomas podem ser transitórios ou persistentes. O prognóstico pode ser melhor em crianças pequenas do que em adolescentes e adultos.

Fatores de Risco e Prognóstico

  • Temperamentais: Traços de personalidade mal-adaptativa estão comumente associados ao transtorno conversivo.
  • Ambientais: Pode haver história de abuso e negligência na infância. Eventos estressantes de vida estão com frequência, mas nem sempre, presentes.
  • Genéticos e fisiológicos: A presença de doença neurológica que cause sintomas similares é um fator de risco (p. ex., convulsões não epiléticas são mais comuns em pacientes que também têm epilepsia).
  • Modificadores do curso: A duração breve dos sintomas e a aceitação do diagnóstico são fatores prognósticos positivos. Traços de personalidade mal-adaptativa, a presença de doença física comórbida e a obtenção de benefícios com a incapacidade podem ser fatores prognósticos negativos.

Questões Diagnósticas Relativas à Cultura

Mudanças que se assemelham a sintomas conversivos (e dissociativos) são comuns em determinados rituais culturalmente aprovados. Se os sintomas puderem ser plenamente explicados dentro do contexto cultural particular e não resultarem em sofrimento ou incapacidade clinicamente significativos, então o diagnóstico de transtorno conversivo não é feito.

Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero

O transtorno conversivo é 2 a 3 vezes mais comum em pessoas do sexo feminino.

Consequências Funcionais do Transtorno Conversivo

Indivíduos com sintomas conversivos podem apresentar grande incapacidade. A gravidade da incapacidade pode ser semelhante à vivenciada por pessoas com doenças médicas comparáveis.

Diagnóstico Diferencial

Se outro transtorno mental explicar melhor os sintomas, tal diagnóstico deverá ser feito. Entretanto, o diagnóstico de transtorno conversivo pode ser feito na presença de um outro transtorno mental.

Doença neurológica: O principal diagnóstico diferencial é uma doença neurológica que possa explicar melhor os sintomas. Após uma avaliação neurológica completa, raramente será encontrada uma causa neurológica patológica inesperada durante o acompanhamento. Entretanto, pode ser preciso reavaliar o paciente caso os sintomas pareçam estar progredindo. O transtorno conversivo pode coexistir com doença neurológica.

Transtorno de sintomas somáticos: O transtorno conversivo pode ser diagnosticado em conjunto com o transtorno de sintomas somáticos. Não se pode claramente demonstrar que a maioria dos sintomas somáticos encontrados nesse transtorno é incompatível com a fisiopatologia (p. ex., dor, fadiga), enquanto no transtorno conversivo tal incompatibilidade é necessária para o diagnóstico. Os pensamentos, sentimentos e comportamentos excessivos característicos do transtorno de sintomas somáticos costumam estar ausentes no transtorno conversivo.

Transtorno factício e simulação: O diagnóstico de transtorno conversivo não requer o julgamento de que os sintomas não sejam produzidos intencionalmente (i.e., não simulados), pois a avaliação da intenção consciente não é confiável. Entretanto, evidências definitivas de fingimento (p. ex., evidência clara de que a perda funcional está presente durante o exame, mas não em casa) sugeririam um diagnóstico de transtorno factício, se o objetivo aparente do indivíduo for assumir um papel de doente, ou de simulação, caso o objetivo for obter um benefício como dinheiro.

Transtornos dissociativos: Sintomas dissociativos são comuns em indivíduos com transtorno conversivo. Se tanto o transtorno conversivo quanto um transtorno dissociativo estiverem presentes, ambos os diagnósticos deverão ser feitos.

Transtorno dismórfico corporal: Indivíduos com transtorno dismórfico corporal são excessivamente preocupados com defeitos que percebem em suas características físicas, mas não se queixam de sintomas de alteração de funcionamento sensorial ou motor na parte do corpo afetada.

Transtornos depressivos: Nos transtornos depressivos, as pessoas podem relatar uma sensação de peso generalizada nos membros, enquanto a fraqueza do transtorno conversivo é mais focal e proeminente. Os transtornos depressivos são diferenciados também pela presença de sintomas depressivos centrais.

Transtorno de pânico: Sintomas neurológicos episódicos (p. ex., tremores e parestesias) podem ocorrer tanto no transtorno conversivo quanto em ataques de pânico. Nos ataques de pânico, os sintomas neurológicos costumam ser transitórios e agudamente episódicos com sintomas cardiorrespiratórios característicos. A perda de consciência com amnésia relativa ao ataque e movimentos violentos dos membros ocorrem em ataques não epiléticos, mas não em ataques de pânico.

Comorbidade

Transtornos de ansiedade, especialmente transtorno de pânico, e transtornos depressivos costumam coexistir com transtorno conversivo. O transtorno de sintomas somáticos pode coexistir também. Psicose, transtorno por uso de substância e abuso de álcool são incomuns. Transtornos da personalidade são mais comuns em indivíduos com transtorno conversivo do que na população em geral. Condições neurológicas e outras condições médicas geralmente coexistem com o transtorno conversivo.

Fonte: DSM-V

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