Critérios Diagnósticos
- Eliminação repetida de urina na cama ou na roupa, voluntária ou involuntária.
- O comportamento é clinicamente significativo conforme manifestado por uma frequência de no mínimo duas vezes por semana durante pelo menos três meses consecutivos ou pela presença de sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, acadêmico (profissional) ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
- A idade cronológica mínima é de 5 anos (ou nível de desenvolvimento equivalente).
- O comportamento não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., diurético, medicamento antipsicótico) ou a outra condição médica (p. ex., diabetes, espinha bífida, transtorno convulsivo).
Determinar o subtipo:
- Exclusivamente noturna: Eliminação de urina apenas durante o sono noturno.
- Exclusivamente diurna: Eliminação de urina durante as horas de vigília.
- Noturna e diurna: Combinação dos dois subtipos.
Subtipos
O subtipo exclusivamente noturno da enurese, às vezes chamado de enurese monossintomática, é o mais comum e envolve incontinência apenas durante o sono noturno, geralmente durante o primeiro terço da noite. O subtipo exclusivamente diurno ocorre na ausência de enurese noturna e pode ser chamado simplesmente de incontinência urinária. Indivíduos com esse subtipo podem ser divididos em dois grupos: os com “incontinência de urgência” têm sintomas de urgência urinária e instabilidade do detrusor, enquanto aqueles com “adiamento da micção” adiam conscientemente a micção até resultar em incontinência. O subtipo noturno e diurno é também conhecido como enurese não monossintomática.
Características Diagnósticas
A característica essencial da enurese é a eliminação repetida de urina durante o dia ou à noite na cama ou na roupa (Critério A). Essa eliminação é mais comumente involuntária, mas, às vezes, pode ser intencional. Para se qualificar para um diagnóstico de enurese, é preciso que a eliminação de urina ocorra no mínimo duas vezes por semana durante pelo menos três meses consecutivos ou que cause sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, acadêmico (profissional) ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (Critério B). É preciso que o indivíduo tenha chegado a uma idade na qual se espera a continência (i.e., uma idade cronológica mínima de 5 anos ou, para crianças com atraso no desenvolvimento, uma idade mental mínima de 5 anos) (Critério C). A incontinência urinária não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., diurético, medicamento antipsicótico) ou a outra condição médica (p. ex., diabetes, espinha bífida, transtorno convulsivo) (Critério D).
Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico
Durante a enurese noturna, a eliminação ocorre ocasionalmente durante o sono de movimentos rápidos dos olhos (REM), e a criança talvez recorde um sonho que envolvia o ato de urinar. Durante a enurese diurna (em vigília), a criança adia a micção até ocorrer a incontinência, às vezes por relutância em usar o banheiro em virtude de ansiedade social ou por preocupação com atividades escolares ou lúdicas. O evento enurético ocorre mais comumente no início da tarde nos dias escolares e pode estar associado a sintomas de comportamento disruptivo. A enurese costuma persistir depois do tratamento apropriado de uma infecção associada.
Prevalência
A prevalência de enurese é de 5 a 10% entre crianças de 5 anos, de 3 a 5% entre crianças de 10 anos e em torno de 1% entre indivíduos com 15 anos ou mais.
Desenvolvimento e Curso
Dois tipos de curso de enurese foram descritos: um tipo “primário”, no qual o indivíduo nunca estabeleceu continência urinária, e um tipo “secundário”, no qual a perturbação se desenvolve depois de um período de continência urinária estabelecida. Não há diferenças na prevalência de transtornos mentais comórbidos entre os dois tipos. Por definição, a enurese primária começa aos 5 anos de idade. A faixa etária mais comum de início da enurese secundária é entre 5 e 8 anos, mas ela pode ocorrer em qualquer idade. Depois dos 5 anos, a taxa de remissão espontânea é de 5 a 10% por ano. A maioria das crianças com o transtorno torna-se continente até a adolescência, mas em aproximadamente 1% dos casos o transtorno continua até a idade adulta. A enurese diurna é incomum depois dos 9 anos de idade. Enquanto a incontinência diurna ocasional não é incomum na infância intermediária, ela é substancialmente mais comum nos indivíduos que já têm também enurese noturna persistente. Quando a enurese persiste até o fim da infância ou da adolescência, a frequência da incontinência pode aumentar, enquanto a continência na primeira infância geralmente está associada a uma frequência descrescente de enurese noturna.
Fatores de Risco e Prognóstico
- Ambientais: Uma série de fatores predisponentes para enurese foi sugerida, incluindo treinamento atrasado ou inexistente do controle esfincteriano e estresse psicossocial.
- Genéticos e fisiológicos: A enurese foi associada a atrasos no desenvolvimento dos ritmos circadianos normais da produção de urina, resultando em poliúria noturna ou anormalidades da sensibilidade do receptor central de vasopressina, bem como em capacidades funcionais reduzidas da bexiga com hiper-reatividade vesical (síndrome da bexiga instável). A enurese noturna é um distúrbio heterogêneo em termos genéticos. A herdabilidade tem sido demonstrada em análises de famílias, de gêmeos e de segregação. O risco de enurese noturna na infância é 3,6 vezes maior na prole de mães enuréticas e 10,1 vezes maior na presença de incontinência urinária paterna. As magnitudes do risco de enurese noturna e incontinência diurna são semelhantes.
Questões Diagnósticas Relativas à Cultura
A enurese tem sido relatada em vários países europeus, africanos e asiáticos, bem como nos Estados Unidos. No contexto nacional, as taxas de prevalência são consideravelmente similares, e existe grande semelhança nas trajetórias de desenvolvimento encontradas em diferentes países. As taxas de enurese em orfanatos e em outros abrigos são muito altas, provavelmente em virtude da maneira e do ambiente nos quais ocorre o treinamento do controle esfincteriano.
Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero
A enurese noturna é mais comum em indivíduos do sexo masculino, e a incontinência diurna é mais comum nos do feminino. O risco relativo de ter um filho que desenvolva enurese é maior para pais com história de enurese do que para mães com a mesma história.
Consequências Funcionais da Enurese
O grau de prejuízo associado à enurese está relacionado às limitações nas atividades sociais da criança (p. ex., incapacidade para dormir fora de casa), a efeitos na autoestima, ao nível de rejeição social pelos pares, além de a raiva, punição e rejeição por parte dos cuidadores.
Diagnóstico Diferencial
Bexiga neurogênica ou outra condição médica: O diagnóstico de enurese não é feito na presença de bexiga neurogênica ou de outra condição médica que cause poliúria ou urgência (p. ex., diabetes melito não tratado ou diabetes insípido) ou durante infecção aguda do trato urinário. Entretanto, um diagnóstico é compatível com tais condições se a incontinência urinária estiver regularmente presente antes do desenvolvimento de outra condição médica ou se persistir depois da instituição de tratamento apropriado da condição médica.
Efeitos colaterais de medicamentos: A enurese pode ocorrer durante o tratamento com medicamentos antipsicóticos, diuréticos ou outras medicações com potencial de induzir incontinência. Nesse caso, o diagnóstico não deverá ser feito isoladamente, mas pode ser apontado como efeito colateral do medicamento. Entretanto, o diagnóstico de enurese pode ser feito se a incontinência urinária estiver presente regularmente antes do tratamento com o medicamento.
Comorbidade
Embora a maioria das crianças com enurese não tenha um transtorno mental comórbido, a prevalência de sintomas comportamentais comórbidos é maior em crianças com enurese do que naquelas sem a doença. Atrasos no desenvolvimento, incluindo atrasos nas habilidades de fala, linguagem, aprendizagem e motoras, também estão presentes em uma parcela de crianças com enurese. Encoprese, sonambulismo e transtorno de terror noturno também podem estar presentes. Infecções do trato urinário são mais comuns em crianças com enurese, especialmente do subtipo diurno, do que em crianças continentes.
Fonte: DSM-V
O texto acima possui caráter exclusivamente informativo. Jamais empreenda qualquer tipo de tratamento ou se automedique sem a orientação de um especialista.